Plantei três torres no quintal da minha casa.
A primeira era pequena demais, ficava três centímetros abaixo da linha do horizonte.
A segunda pareceu insuficiente para quem espera ver a curva da Terra, e ainda os cometas.
A terceira creceu depressa mas a raíz foi frágil demais e não suportou o peso do tronco - caiu no meu telhado, arrebatou as paredes da casa.
Foi nesse dia que decidi: em vez de conhecer o mundo a partir das copas das árvores, ia pisar cada bocadinho de solo com o próprio pé, esgravatá-lo com as mãos e mastigá-lo.
Ia ser solo, ia ser a curva do solo entre os continentes, a latitude e a longitude, iam-me nascer árvores do pensamento, o meu sangue ia ser seiva.
Quando me cansasse de ser solo ia ser ar, quando me cansasse de ser ar ia ser água, e quando me cansasse de ser elemento ia ser o vazio.
Depois de ser tudo, encolhia-me até todos os átomos do meu corpo adormecerem e construiria de novo a minha casa.