sábado, 28 de junho de 2008

Reparei na insistência do pretérito.
Ora cá está ele outra vez.
Pronto. Foi-se embora.
Ah, cá estás outra vez.
(...)
Todas as milhares de bolas de sabão nasceram de cesariana, sem dor. Eram transparentes e higiénicas, perfeitas formas geométricas.
Escolhi para viver a única que escorregou baça. O objectivo era simples: quando tudo à minha volta explodisse ia precisar do conforto de nascer mais uma vez.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Astigmatismo

Saí do quarto às arrecuas.. queria guardar a mais pequena das falhas na tinta da parede. Saí às arrecuas com passos longos, lentos, esforçados.
Saída interminável.
Foi então que uma nuvem me enturvou os olhos. Quis chegar-me à frente, mas era tarde demais.. A parede era lisa, afinal! Não era a tinta nem cheirava a tinta, era só papel de parede!
Quando senti a porta debaixo do calcanhar, já com a visão totalmente desfocada, ganhei a coragem de rodar sobre mim própria.
Fiquei a balançar na linha da porta, os olhos novamente nítidos, esforçando o equilíbrio
Quando me empurraram a queda foi tão abrupta, que me deixou os olhos desfocados para sempre. Ainda agora os fechei.. é assim que sinto melhor.

sábado, 21 de junho de 2008

Desenhei com os dedos na tinta uma cama a naufragar e que bem que me soube.

sábado, 14 de junho de 2008


O que se verá da varanda da frente?

(desce escadas, sobe escadas)

E agora, o que se verá da varanda da frente?

(desce, sobe)

E agora, o que se verá da varanda da frente?

(escadas, escadas!)

E agora, o que se verá da varanda da frente?

(degrau a degrau a degrau)

E agora, o que se verá da varanda da frente?

(implosão, explosão, a dor

- o arranhão interior)

E agora, o que se verá da varanda da frente?



Aqui. Ali. Aqui. Ali. Se o ali é aqui, e o ali é aqui, e até o ali era aqui e o aqui era ali.. Se o ali é o mesmo que o aqui porque distinguem as palavras?


Na varanda da frente vejo a palidez, e às vezes o dançar das folhas.. Mas, no fim, continuo a preferir a minha varanda.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ora, ora, ora. Figuras de estilo de fora, hoje. Nem é preciso. A vida já tem um estilo estupidamente particular, de gel e palito.
Não há nada que me estimule mais a escrever no blog (assim como não há nada que me estimule mais a jogar solitário, fazer recortes em papel, organizar as cuecas por cor, ler a revista cor-de-rosa que sai com o jornal, apagar as mensagens a mais no telemóvel, lavar os pés só porque sabe bem, escovar o cão E ATÉ dar uma arrumadela ao quarto), do que assim um examezinho de português daqueles que é preciso tirar mesmo boa nota, ou até um de matemática, tão adorada por todos, e na realidade, tão prático e pouco maçudo...
Estou leve como uma pena saltitante e flutuante. E branca!
Além disso esta transformação no meu interior é tão interessante, que não me importava de me submeter a este tipo de pressões toda a vida. É... é marcante! A forma como se instala em nós não só o tédio, mas também a fadiga, e aquela depressão de estar fechada em casa... mas por outro lado aquele nervosismo, e até aquela responsabilidade de não poder falhar, porque senão provavelmente $%&-$%... É o que vos digo, vivo momentos de uma magia tão particular que vai ser difícil aproveitar as férias, com o peso leviandade e inconsciência sobre os ombros..
O que vale é que para o ano há mais!